O retorno ao Brasil de André Lamoglia se dá em um cenário instigante. Aos 28 anos, o ator carioca — que ficou conhecido mundialmente no papel de Iván, na quinta temporada do seriado espanhol “Elite”, da Netflix — mergulha de cabeça em “Os Donos do Jogo”, a nova série nacional da plataforma, que estreia em 29 de outubro.
Na trama, ele interpreta Profeta, um jovem estrategista e ambicioso que deseja incluir a família no universo multimilionário do jogo do bicho no Rio de Janeiro. Enquanto o personagem desafia os poderosos do crime, na vida real, Lamoglia expande seus horizontes na atuação. “Foi um projeto que me tirou totalmente da zona de conforto, me desafiou 200%”, diz à GQ Brasil.
Mesmo sem ter contato direto com esse mundo, ele dedicou meses a estudar o roteiro, construindo gestos, olhares e atitudes do papel. “Fizemos aula de tiro para saber manusear uma arma, por exemplo. Também passamos por vivências com o Batalhão de Ações com Cães. Apesar de meu personagem não ter nada a ver com policiais, queríamos captar aquela energia das pessoas sempre correndo perigo”, conta.
Se em “Elite” o artista adotou um visual jovial para interpretar um estudante brasileiro cheio de conflitos amorosos, para encarnar Profeta, o cabelo precisou ser raspado e a barba cresceu. Ele tirou de letra a preparação física, pois sempre se mostrou ativo. “Nunca pratiquei exercícios para fins estéticos — isso foi consequência —, mas porque me sinto bem. Gosto de treinar, de me alimentar bem. Sei que meu corpo é uma ferramenta de trabalho”, pontua.
Nascido e criado no Rio de Janeiro, Lamoglia não sonhava em virar ator na infância. Ele lembra, inclusive, de uma situação curiosa aos 10 anos de idade. Estava em um restaurante com a família quando Juliana Paes entrou no estabelecimento. Fãs da atriz, seus pais ficaram animados e, como de praxe, fizeram o filho tirar uma foto ao lado da estrela. Agora, em “Os Donos do Jogo”, os dois contracenam juntos. “Depois de tanto tempo, acho não só gratificante, mas também curioso admirar seu trabalho e atuar com ela, pelas voltas que a vida dá”, afirma.
Também brilham no elenco nomes como Chico Diaz, Giullia Buscacio, Mel Maia e Xamã. “Todos estavam com a mesma energia, querendo dar o melhor de si. Isso eleva o nível geral.” A inspiração para entrar na profissão veio do irmão mais velho, o também ator Victor Lamoglia, 32, que levou o caçula para o curso da escola O Tablado quando tinha 14 anos.
André Lamoglia vive "Profeta" em "Os Donos do Jogo"
MAR+VIN/Netflix
Logo em seguida, o adolescente estreou no teatro na peça “Cinderela”, na versão de José Wilker. Seu trabalho ficou famoso entre o público jovem em 2017, quando viveu Rafa Smor, protagonista de “Juacas”, no Disney Channel. No mesmo ano, ainda chegariam os papéis nacionais em “1 Contra Todos” e “Detetives do Prédio Azul”. Ele conquistou sua primeira oportunidade internacional na Argentina, em 2020: o Luan, na série “Bia”. Após dois anos, seria convidado para participar do hit “Elite”, que abriria de vez as portas para produções estrangeiras, a exemplo de uma participação em inglês na série sul-africana “Sangue e Água”, da Netflix, em 2024.
Nos últimos tempos, Lamoglia, que acumula 3 milhões de seguidores no Instagram, também virou rosto querido por grandes etiquetas da moda, como Prada, Dolce&Gabbana, Bvlgari e Calvin Klein, com as quais firmou parcerias. Além disso, marca presença em semanas de moda, especialmente na Europa — ele mora em Madri.
“Entendi que a moda é história, cada roupa carrega algo por trás. Tenho participado de desfiles e, cada vez mais, compreendo esse universo e trago isso para mim. Quando visto uma peça relaxada, eu me sinto mais tranquilo e leve. Quando escolho algo mais justo, percebo que minha atitude muda junto”, analisa.
A trama da nova produção de Lamoglia, dirigida por Heitor Dhalia (“O Cheiro do Ralo”, “Arcanjo Renegado”, “DNA do Crime”...), explora conflitos familiares e a disputa pelo poder entre quatro clãs rivais, trazendo à tela o lado humano e, ao mesmo tempo, implacável e impiedoso da contravenção. “A série fala sobre a ambição de cada um, sobre do que cada personagem é capaz para conquistar o poder, e o que significa esse poder para eles”, adianta.
Para o artista, a combinação de fatores de voltar ao Brasil, ser dirigido por Dhalia e interpretar um protagonista em uma série de grande dimensão gera uma empolgação inevitável. Porém, ressalta, seu olhar como profissional não se limita a fronteiras. “Nunca me prendo ao país onde estou trabalhando. Já atuei em muitos lugares, em vários idiomas. Estou preparado para ir aonde for necessário”, atesta. “Minha mochila está pronta, e minha vontade de fazer o que amo continua sendo o que mais me move.”