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Belo Horizonte,29/10/2025

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    Superando risco de amputação após infecção generalizada, irmãos cruzaram o Reino Unido correndo em 35 dias

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    Superando risco de amputação após infecção generalizada, irmãos cruzaram o Reino Unido correndo em 35 dias


    Os irmãos Stefan e Lachlan Lamble, 26 e 24 anos respectivamente, atendem à ligação de vídeo em sua casa em Melbourne, Austrália, enquanto se recuperam de um treino matinal sobre bikes. Do outro lado da tela, a dupla lembra o arquétipo do surfista australiano (eternizado por figuras como Mark Warren e Peter Crawford): porte atlético, pele bronzeada e longos cabelos loiros bagunçados. Fazia então cerca de um mês e meio que Stefan e Lach haviam cumprido um feito de dimensões épicas: atravessar correndo o Reino Unido de norte a sul, em um exigente percurso de 1.625km realizado em 35 dias (chegaram a perder mais de 9 quilos, além de 4 pares de tênis cada, durante a prova).
    O desafio aconteceu cerca de um ano após os irmãos cruzarem a Austrália - de Perth, a oeste, a Melbourne, no leste -, também na base das pernas, totalizando 3.400km em 85 dias. Em ambos os casos, internautas participaram doando centenas de milhares de dólares em prol da pesquisa do câncer (gesto em homenagem a avó dos irmãos, Marg, que morreu de câncer de mama em 2016).
    No dia 31 de agosto, quando os Lamble atravessaram a linha de chegada improvisada em Cornwall, no ponto mais ao sul da Inglaterra, não fazia dois anos desde que adotaram a corrida como passatempo (boa parte da disposição física da dupla, dizem, veio dos 14 anos que se dedicaram ao futebol australiano, uma versão local do rugby).
    Apesar da jovialidade digna de aventureiros viciados em adrenalina (ao menos uma de suas desventuras no percurso lhes rendeu até nota em um tabloide escocês), a conquista no Reino Unido teve um sabor mais agridoce do que se imagina. “Se você ver nossas publicações ao fim da corrida australiana estávamos saltitantes, muito felizes. Desta vez, caímos em prantos nos últimos 5km ", conta Lachlan à GQ Brasil. "Terminamos literalmente sem energia. Naquele dia tínhamos que vencer 73km e eu não conseguia sequer sair da cama."
    O diagnóstico ao fim da prova britânica incluiu joelhos destruídos e cartilagens enfraquecidas, como foi o caso na Austrália. Mas o mal estar citado por Lachlan teve ainda outro culpado. Nove dias antes de concluírem o desafio, o irmão mais novo começou a notar vermelhidão e bolhas no pé. "Achei que era uma reação alérgica à grama ou às meias, mas pelos próximos três dias foi piorando e subindo pelas pernas e braços - minhas mãos começaram a apresentar manchas vermelhas. Eu tremia e não conseguia parar", conta.
    Por 100 metros, experimentou correr descalço antes de aceitar que seria impossível prosseguir. A dor ficava mais e mais intensa. “Era como ser picado por centenas de vespas", lembra. 289km distante da linha de chegada, precisou ser carregado por Stefan até o Dorst Country Hospital, em Dorchester. No atendimento de urgência, descobriram se tratar de uma infecção generalizada, a também chamada sepse. A suspeita é que o corredor teve contato com água de esgoto enquanto limpava a van que servia de suporte ao desafio.
    Este tipo de infecção pode ser causado por bactérias, fungos, vírus, parasitas ou protozoários, de acordo com o Ministério da Saúde. Sintomas variam, incluindo febre alta, aumento da frequência cardíaca e pressão baixa - é o corpo dando sinais de um grave mau funcionamento do organismo.
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    "Lach entrava e saía de choque séptico a cada três ou quatro horas, o corpo tremendo incontrolavelmente", diz Stefan. "Ele contou ao doutor que havia corrido nos três dias anteriores à internação, e o médico não conseguia acreditar que ele estava fazendo o equivalente a uma ultramaratona diária, pois só havia presenciado essa infecção duas vezes em toda a sua carreira, e este era de longe o pior caso que viu."
    O corredor foi submetido a um tratamento envolvendo esteroides, com a previsão de que, entre 48 a 72 horas de adesão aos remédios, o pior da infecção já teria passado. Mas haviam más notícias: "Já que a sepse havia feito um dano tão severo, especialmente nos pés dele, roxos e inchados, não podíamos fazer qualquer esforço com as pernas por duas semanas", conta Stefan. "Se eu continuasse, havia a possiblidade de precisar amputar meus dois pés. A infecção poderia ter colocado minha vida em risco", lembra Lachlan.
    O que se seguiu foram horas de tensão. Assustada, Deborah, 57, a mãe da dupla que fazia o papel de suporte de dentro da van, insistia repetidas vezes para que os irmãos desistissem. Stefan estava aflito com a implicação de sequelas graves. “Não mencionamos nada a ele, mas de fato consideramos jogar a toalha de vez", lembra o irmão mais velho. "Deixamos a decisão final nas mãos de Lach.”
    Por força do caçula, Stefan, Deborah e o cinegrafista da equipe deixaram o hospital 12 horas após terem dado a entrada. Lachlan seguiu viagem com a ajuda de doses de esteroides e anti-histamínicos, andadores e a visita de um profissional de saúde poucos dias depois. A família cravou uma regra: se entre cada percurso de 10km Lachlan não conseguisse mais andar, era direto para o hospital mais próximo. "Não parei, mas teve momentos em que andei beeem devagar", lembra.
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    Nos 5 dias seguintes, os irmãos superaram os 289km restantes - Lachlan, à base de remédios, cremes, ataduras e pensamento positivo tanto do irmão quanto da rede de mais de 800 mil seguidores online. “Ao fim da corrida, a infecção parecia ter sumido, mas os pés dele estavam tão destruídos... tinham o dobro do tamanho. Era extraordinário, nunca vi algo do tipo", descreve Stefan. “Tive que fazer buracos nos meus tênis porque eles não entravam", diz Lachlan.
    Ambos descrevem uma onda de emoções com o fim do desafio. Com os corpos recuperados, já planejam atravessar um outro país ano que vem. "Vamos jogar um dardo no mapa e ver onde ele cai", brinca Stefan.
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    Para se prepararem, os irmãos ficaram reclusos por 8 meses na região montanhosa de Dandenong, a 35 km de Melbourne - “Toda semana nós fazíamos de 25 a 30 horas de treino, muito exercício de força e corrida", resume Lachlan.
    Durante a corrida, a dupla gastava 6 a 7 mil calorias diárias e fazia em média 10 refeições ao dia com a ajuda da mãe - "A cada 10 ou 12km realizávamos um pequeno pit stop. Nossa van nos alcançava, entrávamos e comíamos o máximo de comida possível. Muito arroz, frango, batatas, avocado, ovos, óleo de coco, azeite, aveia", lista Stefan.
    Era preciso ir ao menos cinco vezes ao banheiro a cada dia - “Não gostamos muito de gel ou mixes de carboidrato (meios de atletas se nutrirem durante provas); tomávamos talvez uns dois por dia. O resto era muita comida, o que desafiou nossos estômagos no decorrer da viagem", comenta Stefan.
    Os irmãos planejaram um cronograma de 2 a 4 meses de recuperação ao fim do desafio - "Dormindo em média 9 horas toda noite, banhos de gelo quase diariamente", diz Lachlan.




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