Adri Fernandes

A queda do czarismo, o levante socialista, a moda em Paris e o cinema em Hollywood

Czarismo era o sistema autocrático russo (como uma monarquia) que vigorou até 1917, quando revolucionários bolcheviques (grupo político que defendia a revolução socialista, isto é, a ditadura do proletariado) tomou o poder. Como ocorreu em outros países onde a monarquia foi derrubada, a nobreza, a corte russa precisou fugir para não serem presos ou até mortos pelo novo sistema.
Félix Felixovich Youssoupoff nascido em 1887, era de uma das famílias mais ricas do Império Russo e, ao se casar com a princesa Irina Alexandrovna Romanov, em 1914, sobrinha de Nicolau II, o último czar, tornou-se também príncipe, membro da realeza. O casal era reconhecido como um dos mais bonitos da Rússia.
Uma curiosidade: foi em sua casa, e por ideia sua, que ocorreram as tentativas de assassinato do bruxo Rasputin (que sobreviveu ao veneno, aos tiros e à surra que levou), como tentativa de acalmar os ânimos políticos, para evitar a revolução. Não deu certo!
Com a tomada do poder dos Romanov por Stálin, em 1917, Youssoupoff, Irina e a filha do casal fugiram para a Criméia, após recolherem alguns pertences, joias e obras de arte que pudessem garantir-lhes o sustento. Da Criméia, rumaram para Malta, depois para Itália, França e Inglaterra. Em 1920, retornaram à França, estabelecendo-se no subúrbio de Paris.
Na capital francesa, em 1924, o casal abriu uma boutique, a Maison IrFé (de Irina e Félix), que não durou muito. Sem renda e mantendo o mesmo padrão que possuíam antes da Revolução, empobreceram rapidamente. Antes disso, ajudaram muitos necessitados, conquistando grande conceito entre os refugiados russos.
Na IRFÉ o casal vendia suas próprias criações e também vestidos de outros estilistas, tendo a própria princesa como modelo de algumas peças e rapidamente conquistaram clientes europeus e americanos, de elevado nível financeiro e social, encantados por seus fundadores aristocráticos. A maison cresceu e além da boutique na região que abrigava as lojas de luxo em Paris, teve filiais também em Berlim, Londres e Normandia.
A griffe fechou em 1931, mas também produzia perfumes lendários, cuja produção manteve até 1940. A partir de então, sobreviveram com a renda obtida em ações judiciais que moveram, e ganharam, contra editoras e estúdios cinematográficos (um deles, o hollywoodiano Metro-Goldwyn-Mayer, teve que indeniza-los em valor que hoje corresponde a 17 milhões de reais) por denegrirem a imagem de Irina, nas histórias sobre Rasputin, apontando-a como seguidora do bruxo que ela sequer conheceu. Félix não se importava de ser apontado como o assassino, até se gabava disso e, ao escrever suas memórias, obteve mais uma fonte de renda.
Ele também foi processado. Em 1928, uma filha de Rasputin quis ser indenizada pela morte do pai. Porém, ela não obteve sucesso, pois ajuizou a ação na França e a jurisdição cabia à Rússia.
Foi por causa dos processos relativos à mancha moral à imagem da princesa, e para evitar novos processos, que, desde então, as produtoras cinematográficas incluíram nos créditos dos filmes a informação de que “esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência”.
Em 2008, a modelo bielorussa, Olga Sorokina, após ler sobre a história da IRFÈ e encontrar-se com a neta dos Youssoupoff, restabeleceu a maison, quase 80 anos após o encerramento de suas atividades, apresentando-a durante a Semana de Alta Costura de Paris. Hoje, suas coleções são vendidas em mais de 20 países, inclusive com a primeira loja na Rússia (Moscou), aberta em 2010. Seu primeiro desfile ocorreu na Semana de Moda de Paris, em 2013, em comemoração ao 400º (quadringentésimo) aniversário da Dinastia Romanov.
Visite o site da maison, atual Fashion House Irfé, www.irfe.com, que em 2016 se mudou para Nova York, com showroom na 5th Avenue.
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