Quem faz e quanto custa os trajes do Papa

Loja fundada em 1798 em Roma tem a responsabilidade de vestir o próximo líder da Igreja Católica da cabeça aos pés Quando a fumaça branca escapar pela chaminé da Capela Sistina, sinalizando o fim do conclave (que começa nesta quarta, 7) e a escolha em definitivo do próximo Papa, o escolhido para o cargo tem a decisão sartorial já decidida por ele. É como manda a tradição: uma longa batina de lã adornada por uma faixa na cintura da mesma cor, um solidéu sobre a cabeça, além da mozzetta, capa curta que cobre os ombros e é usada sobre a batina. É vestido assim que o novo Papa irá surgir na sacada que dá vista para a Praça de São Pedro, em frente à Basílica de mesmo nome na cidade do Vaticano, concluindo sua primeira aparição pública oficial.
Para quem confecciona as peças que o Papa irá usar desse momento em diante, o momento é um arremate de semanas de trabalho e certa incerteza - maior este ano. A responsabilidade geralmente fica com uma loja de dois andares localizada na Via di Santa Chiara, rua próxima ao Parthenon, em Roma, chamada Ditta Annibale Gammarelli. Eles são os alfaiates do Papa desde o século 18. A partir da fundação da loja em 1798 (quando Roma ainda era um domínio papal) ela se manteve como um negócio familiar, e é assim até hoje. É lá também que cardiais, bispos e outros membros do clero adquirem seus trajes oficiais.
A fachada da Gammarelli, tradicionais alfaiates do clero
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Ainda que receba encomendas de outros membros do Vaticano buscando atualizar seu guarda-roupa durante o movimento do conclave, a loja trabalha focada nas vestes papais durante esses dias de eleição. Por via de regra, cada peça do vestuário é feita em três tamanhos distintos (alto, médio, baixo), sem contar os vários mocassins de todo tipo de numeração. O cuidado se deve ao fato de que é impossível saber quem será o novo Papa - e portanto, quais suas medidas - até o fim da reunião de cardeais.
Mas desta vez o sucessor do Papa Francisco deve ser um ponto fora da curva. De acordo com a agência de notícias AFP, o Vaticano encomendou as batinas brancas (também em conjunto de três), faixa e solidéu para outro profissional já conhecido do clero: Raniero Mancinelli. Há 70 anos trabalhando como alfaiate em Roma, Mancinelli chegou a vestir os três Papas anteriores, inclusive Francisco, mas será a primeira vez que irá ajudar a preparar um Papa para sua primeira aparição pública.
Da mesma forma que os Gammarelli, a família Mancinelli também tem recebido pedidos de cardeais nos últimos dias, mas, em conversa com o jornal National Catholic Reporter, conta preferir não atendê-los pelo bem do decoro. "Vamos esperar até depois do conclave. Eu não gostaria que um deles se tornasse Papa com um botão de ouro recém-costurado", diz.
Quanto custa vestir um Papa?
Papa Francisco em sua primeira aparição pública em 2013
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Mancinelli conta que os itens preparados ao Papa são um presente, portanto sem um custo atrelado. Saber exatamente quanto custa o que um Papa veste é uma questão complexa, já que materiais, trajes e preferências pessoais mudam de regente para regente. Em 2022, porém, uma batina e solidéus assinados pelo Papa Francisco foram a arremate pela casa de leilões Heritage Auctions, pelo lance inicial de 25 mil dólares (cerca de 143 mil reais na cotação atual)
Para uma noção mais pé no chão, é possível comprar artigos feitos pelos alfaiates tradicionais do clero mesmo que você não seja um membro da Igreja. A Gammarelli tem como distribuidora oficial a loja italiana Mes Chaussettes Rouge que comercializa um conjunto de meias fabricadas pela família. Elas variam de 24 euros (156 reais) para aquelas feitas em algodão, a 45 euros (293 reais) para pelas em seda.
Curiosidades da história dos trajes papais
A cor branca para as vestes do Papa é uma tradição que remonta a Pio V, que manteve o hábito branco durante sua ordem, de 1566 a 1572;
Apesar de raro na história recente, nem todos os Papas desde a fundação da Gammarelli apostaram no trabalho destes artesãos. Foi o caso do Papa Pio XII, no cargo entre 1939 e 1958, que preferia contar com seu alfaiate pessoal;
Segundo fontes ao NYT, João Paulo II foi um Papa mais simples em termos de vestuário. Ele preferia deixar programada uma encomenda anual, junto de suas medidas, com a Gammarelli para duas batinas de lã, confeccionadas de forma a enfrentarem bem os dias de calor romanos. Se provou desinteressado também nas capas de brocados ostentosos e na sedia gestatoria, o trono tradicionalmente carregado pelos fieis.
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