Encontro entre Trump e Xi pode redefinir guerra comercial
Donald Trump desembarcou nesta quarta-feira (29/10) em Gyeongju, no sul da Coreia do Sul, onde ocorre a cúpula da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec). Essa é a terceira e última etapa do giro do presidente americano pela Ásia. Trump já se reuniu com o presidente sul-coreano Lee Jae Myung, mas é a reunião marcada para esta quinta-feira (30/10) com o presidente chinês Xi Jinping que concentra as atenções. O encontro foi confirmado nesta quarta-feira pela China.
Donald Trump foi recepcionado pelo presidente sul-coreano Lee Jae Myung na capital histórica do país e recebeu, como presente, uma réplica de uma coroa de ouro usada por uma dinastia que governou a Coreia de 57 a.C. até 935 d.C. Ele também foi condecorado com a Ordem de Mugunghwa, a mais alta honraria de mérito da Coreia do Sul.
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Bolsas da Ásia avançam após confirmação de reunião entre Trump e Xi
Nesta quinta, Trump se encontra com Xi Jinping à margem da cúpula da Apec. Será a primeira reunião presencial entre os dois presidentes desde o retorno do republicano à Casa Branca. Até hoje, a China não havia confirmado oficialmente o encontro, anunciado por Trump em meio às tensões comerciais entre as duas potências.
Os dois líderes terão discussões “aprofundadas” sobre “questões estratégicas e de longo prazo relacionadas às relações entre China e Estados Unidos, além de temas importantes de interesse comum”, declarou o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Guo Jiakun, durante uma coletiva de imprensa regular.
“Estamos prontos para trabalhar em conjunto com a parte americana para que esse encontro seja um sucesso e produza resultados positivos”, acrescentou.
Trump declarou nesta quarta-feira que espera uma “excelente reunião” com seu homólogo chinês, afirmando que “muitos problemas serão resolvidos” durante o encontro.
Expectativas para o encontro
Segundo o governo chinês, a expectativa é de que os dois países “se encontrem no meio do caminho”. A frase foi usada pelo chanceler Wang Yi em uma ligação com o secretário de Estado americano, Marco Rubio, nesta terça-feira (28). Pequim quer evitar um novo aumento de tarifas de até 100% sobre produtos chineses, que o governo americano ameaçou impor em resposta às restrições da China às exportações de terras raras.
De acordo com o comunicado chinês, o objetivo é “criar condições para o desenvolvimento das relações bilaterais”. Já o Departamento de Estado americano confirmou a conversa e afirmou que Rubio defendeu uma comunicação aberta e construtiva entre as duas maiores economias do mundo.
Taiwan deve estar em jogo
Embora Trump tenha dito que quer concentrar a conversa com Xi Jinping em temas comerciais, especialistas apontam que o presidente chinês deve aproveitar o encontro para tentar convencer os Estados Unidos a suavizar o apoio a Taiwan.
Pequim quer que Trump reafirme que Washington não apoia a independência da ilha. Isso já foi dito por administrações anteriores, mas recentemente deixou de aparecer até em documentos oficiais do Departamento de Estado.
Em Taipei, o chanceler Lin Chia-lung afirmou que as relações com os Estados Unidos seguem “muito estáveis” e negou qualquer temor de abandono, destacando a cooperação em segurança e comércio.
Mas Pequim reagiu duramente, chamando as declarações do ministro de “vergonhosas” e voltando a pedir que Washington trate o tema de forma “cautelosa e prudente”.
Produtores de soja americanos torcem por um acordo
Os produtores de soja dos Estados Unidos esperam que o encontro entre Trump e Xi Jinping traga algum alívio para a guerra comercial que vem deixando o setor em crise. A China, que por décadas foi o principal comprador da soja americana, praticamente suspendeu as importações desde que Washington impôs novas tarifas sobre produtos chineses.
O resultado foi um embargo informal: centenas de milhares de agricultores ficaram sem mercado para escoar a produção, num golpe duro para o cinturão agrícola do país.
Enquanto isso, o Brasil se beneficiou diretamente. Com a saída dos Estados Unidos do mercado chinês, os produtores brasileiros passaram a dominar o setor: hoje, mais de 70% da soja importada pela China vem do Brasil, contra apenas 21% de origem americana, segundo dados do Banco Mundial.
A esperança entre os fazendeiros americanos é de que o encontro desta semana, em Gyeongju, possa abrir caminho para uma trégua comercial e recolocar os Estados Unidos na disputa pelo maior mercado de soja do planeta.
As terras raras também devem entrar na mesa de negociação
As chamadas terras raras são minerais essenciais para a produção de tecnologias de ponta, de celulares e carros elétricos a equipamentos médicos e sistemas militares.
Hoje, a China domina quase 70% do processamento mundial desses materiais, o que dá a Pequim enorme poder de pressão em meio à guerra comercial. Por isso, os Estados Unidos vêm tentando diversificar fornecedores e fechar acordos com países como Austrália, Japão e Malásia para reduzir a dependência chinesa.
E é aí que o Brasil entra na equação. O país tem as segundas maiores reservas de terras raras do mundo, mas ainda está em fase inicial de exploração e refinamento. Mesmo assim, tornou-se um fornecedor estratégico para Washington, justamente no momento em que o governo americano mantém tarifas pesadas sobre produtos brasileiros, como o aço e o etanol.
Ou seja, as terras raras podem se tornar uma nova moeda de troca nessa disputa: um recurso que interessa tanto à China quanto aos Estados Unidos, e que pode redefinir a posição do Brasil nas negociações comerciais com os dois gigantes.
Situação atual das tarifas entre os Estados Unidos e a China
Desde fevereiro, os Estados Unidos mantêm uma tarifa de 20% sobre produtos químicos usados na produção de fentanil, e o governo Trump já sinalizou que pode reduzir essa taxa pela metade caso a China adote medidas mais duras contra o tráfico da substância.
Mas há novas medidas no horizonte. A partir de 1º de novembro, pode entrar em vigor uma tarifa de 100% sobre as exportações chinesas de terras raras, em resposta às restrições impostas por Pequim à venda desses minerais estratégicos.
Além disso, Washington ameaça sobretaxar produtos chineses se o país continuar comprando petróleo da Rússia e da Venezuela, uma forma de pressionar indiretamente Moscou e Caracas. A China se tornou o principal destino do petróleo russo desde o início das sanções ocidentais, motivadas pela guerra na Ucrânia e pela crise política no regime de Nicolás Maduro.





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