H9N2: menor cepa do vírus da gripe aviária preocupa cientistas
A menor cepa do vírus da gripe aviária — conhecida como H9N2 — vem despertando a atenção de pesquisadores em todo o mundo. Embora historicamente considerada inofensiva, essa variante do vírus influenza tem mostrado sinais de adaptação a células humanas, o que levanta preocupações sobre um possível salto entre espécies. A constatação foi publicada na revista científica Nature, nessa segunda-feira (27/10).
Os cientistas alertam que o H9N2 circula há décadas em aves domésticas e silvestres, especialmente na Ásia, e raramente causa mortes. No entanto, análises recentes indicam que o vírus passou a adquirir mutações que permitem se ligar aos mesmos receptores presentes nas vias respiratórias humanas. Essa capacidade sugere um avanço evolutivo — ainda inicial — em direção à infecção de pessoas.
Apesar dessa descoberta, não há registro de transmissão entre humanos, e o risco de pandemia continua baixo. O estudo reforça, porém, que as mudanças genéticas do H9N2 precisam ser acompanhadas de perto, já que os vírus dessa categoria tendem a evoluir de forma imprevisível.
Leia também
Mundo
Alemanha sacrifica 500 mil aves para conter gripe aviária
Saúde
Estudo indica contaminação de gripe aviária no ar de fazendas dos EUA
Brasil
Ceará registra primeiro foco de gripe aviária em aves domésticas
Brasil
Gripe aviária: África do Sul e Singapura retiram restrições à carne brasileira
Por que o H9N2 preocupa
O subtipo H9N2 é considerado “menor” porque provoca infecções leves nas aves, muitas vezes sem sintomas visíveis. Isso o torna difícil de detectar e, consequentemente, subnotificado em sistemas de vigilância sanitária. A circulação silenciosa cria um ambiente ideal para o surgimento de novas mutações, especialmente quando há contato frequente entre humanos e aves em mercados e criações rurais.
Segundo os autores da pesquisa, essa baixa percepção de risco é perigosa. Diferentemente do H5N1 — a cepa mais conhecida e letal —, o H9N2 não chama tanta atenção, mas pode atuar como uma “ponte genética” entre vírus de aves e humanos, contribuindo para a formação de novas linhagens mais transmissíveis.
Os autores do novo estudo destacam que o momento é de reforçar a vigilância e o sequenciamento genético em aves e pessoas expostas a elas. Eles defendem a ampliação da coleta de dados em regiões onde o vírus é endêmico, como China, Oriente Médio e partes da África, para identificar rapidamente mutações que indiquem maior adaptação humana.
O estudo também sugere que vacinas e medicamentos antivirais devem começar a considerar o H9N2 entre as cepas de interesse para monitoramento, já que há indícios de que ele pode recombinar-se com outros vírus influenza, aumentando o potencial de infecção cruzada.
Risco ainda é baixo, mas não deve ser ignorado
Os autores enfatizam que o risco imediato para a população não é motivo de alarme, mas sim de atenção. O H9N2 representa uma ameaça potencial, e não uma emergência atual. O foco deve estar na prevenção: acompanhar mutações, testar amostras e reduzir o contato direto com aves vivas em ambientes urbanos e rurais.
Para os cientistas, a lição é clara: vírus silenciosos também merecem grande vigilância. Subtipos como o H9N2, discretos e persistentes, podem ser a origem de futuras epidemias se continuarem a evoluir sem controle.
Siga a editoria de Saúde e Ciência no Instagram e fique por dentro de tudo sobre o assunto!





COMENTÁRIOS