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Belo Horizonte,28/10/2025

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    Da Lata” 30 anos: Fernanda Abreu entre documentário, livro e novas colaborações

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    Da Lata” 30 anos: Fernanda Abreu entre documentário, livro e novas colaborações


    Trinta anos. Trinta anos de suingue, batucada, funk, pop eletrônico e, acima de tudo, inventividade. É nesse tempo que Fernanda Abreu olha para Da Lata, álbum que desde 1995 transformou a batida de uma lata em símbolo de modernidade, criatividade e resistência cultural. Hits como Garota Sangue Bom, Veneno da Lata e Brasil é País do Suingue ainda reverberam em playlists, festas e na memória afetiva de gerações. E agora, o disco ganha novas camadas: documentário, livro comemorativo, relançamento em vinil e remixagens inéditas.
    O documentário Da Lata – 30 anos, dirigido por Paulo Severo, estreou no Festival do Rio e terá exibição única em São Paulo, dia 10 de novembro (Espaço Petrobras de Cinema, Augusta). Depois, segue para outros festivais pelo país. As sessões prometem mostrar mais do que bastidores: é uma imersão no processo criativo de Fernanda, da pré-produção no Rio à mixagem em Londres, sem economizar nas histórias, acervos e memórias que fizeram do álbum um clássico.
    Em conversa exclusiva, Fernanda reflete sobre o que significa revisitar Da Lata três décadas depois: “Rever o material todo me fez perceber que sempre tive cuidado com a obra, mas que isso agora ganha um novo significado.” Ela destaca também a transformação do trabalho colaborativo ao longo do tempo: “Hoje, trabalhar com mulheres me dá um olhar diferente, uma energia que transforma tudo.”
    Fernanda Abreu
    Mateus Rubim
    A força de Da Lata sempre foi dupla: som e imagem, ritmo e visual. Figurinos feitos de metal, cenários de sucata, coreografias de Deborah Colker — cada apresentação era um espetáculo performático, traduzindo a estética urbana do Rio e o espírito da artista. O relançamento em vinil, os remix inéditos de Garota Sangue Bom e o livro Da Lata – 30 anos são mais do que celebrações: são reafirmações de Fernanda como uma artista atemporal, que sabe revisitar seu legado sem perder a ousadia, com imagens capturadas por Mateus Rubim (ensaio 2025) e Walter Carvalho (1995), que registram a força visual do projeto.
    No fundo, é isso que o álbum representa: mais do que som, é atitude. E Fernanda Abreu, aos 30 anos do álbum, prova que o suingue não envelhece — ele se reinventa. Confira abaixo o bate-papo com a artista sobre o disco, seus 30 anos de trajetória e a visão que mantém a obra tão viva até hoje:

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    Vogue: O conceito de “Da Lata” surgiu a partir de uma observação do Brasil. Olhando em retrospecto, o que esse símbolo representa para você hoje?
    Fernanda Abreu: A lata tem várias vertentes. Representa a precariedade — não é nobre como ouro ou prata —, mas também uma grande possibilidade criativa. Quando as pessoas pegam uma panela ou uma frigideira e batem nela, é como uma expressão de inventividade para se virar no dia a dia. Também tem a ideia de “dizer na lata”, ou seja, falar diretamente, que vem da história dos radialistas. E tudo isso continua atual. Por isso quis comemorar com um documentário, livro e vinil, mostrando a criação coletiva do álbum, da capa, dos videoclipes e da turnê.
    Vogue: O álbum soa muito moderno até hoje. Como funcionou o processo criativo na época?
    Fernanda Abreu: Eu começo a compor com parceiros, que me enviam grooves, ideias de letra, ou nos encontramos para conversar sobre o Brasil, sobre a alma humana. Depois, vamos estruturando com instrumentos, bateria eletrônica ou bits. Paralelamente, eu trabalhava com um artista visual para traduzir cada música em conceito visual. Por exemplo, para “Da Lata”, usamos mantos de Luiz do Rosário como referência visual. O videoclipe de “Veneno da Lata” foi gravado numa escola de samba inspirada no “Aquarela Brasileira”. É tudo um processo diário de troca de ideias, conexões que se complementam.
    Fernanda Abreu
    Mateus Rubim
    Vogue: E revisitando o álbum, qual foi a lembrança mais forte que voltou à tona?
    Fernanda Abreu: Eu nunca tinha feito um documentário antes. Começamos com 40 horas de imagens da gravação, da mixagem, da capa, dos making ofs, do videoclipe e das turnês. Busquei também fotos e ingressos do fã-clube. Liguei para Luís Stein e decidimos transformar isso em documentário, livro e vinil. Foi uma loucura, mas foi incrível. E chamei Bruna e Lívia, da From House to Disco, para remixar “Garota Sangue Bom”, porque o material original só tinha homens: produtores, músicos, executivos.
    Vogue: Na época, você trabalhava em um ambiente muito masculino. Como foi lidar com isso?
    Fernanda Abreu: Sim, e é importante contextualizar: na época da produção do álbum, em meados dos anos 90, eram muito poucas mulheres no estúdio, nos arranjos, na gravadora, nos shows, na mídia. Sempre precisei ter poder de negociação e deixar claro que a última palavra era minha. Hoje, sempre que posso, opto por trabalhar com mulheres — mas não apenas por serem mulheres, e sim pelo talento que apresentam. A nova geração feminina está muito capacitada e trazendo trabalhos de alta qualidade.
    Vogue: Você sempre foi uma força feminina à frente do seu tempo. Em que momento percebeu o poder da sua arte nesse sentido?
    Fernanda Abreu: Desde cedo percebi que minha arte tinha esse poder. Tirar a mulher do fogão, colocar a frigideira no peito e fazê-la brilhar no palco era intuitivamente um movimento de empoderamento. Hoje falamos de resistência, representatividade e desconstrução do machismo, mas naquela época era preciso inventar formas de existir e se afirmar artisticamente.
    Fernanda Abreu
    Mateus Rubim
    Vogue: E em termos das músicas, você tem alguma favorita revisitando o álbum?
    Fernanda Abreu: Sim, “Veneno da Lata” e “Garota Sangue Bom”. A primeira pelo conceito que traduz samba, funk e música eletrônica; a segunda pela letra, que reforça o feminismo intuitivo, mostrando que mulheres podem ser sensuais e inteligentes ao mesmo tempo. Há 30 anos, eu já dizia isso de forma intuitiva.
    Vogue: E quanto à parte visual, como foi a recriação para essa comemoração?
    Fernanda Abreu: Eu senti que era importante trazer uma leitura atual do projeto. Chamei Claudia Kopke, fotógrafa super premiada, que também foi figurinista de “Ainda Estou Aqui”, para a recriação visual. Também trabalhei com o Mateus Rubim e o Rogério S., meus amigos e colaboradores de longa data. Montamos um estúdio, fizemos fotos novas para o livro e para divulgação, mantendo o conceito original, mas com um olhar de 2025.
    Vogue: E hoje, como você absorve música de outros artistas?
    Fernanda Abreu: Totalmente de forma analítica. Eu percebo cada timbre, mixagem, instrumentos, se é analógico ou digital. O único momento em que desligo dessa análise é na pista de dança: aí eu apenas danço e sinto a música.de dança: apenas danço e sinto a música.

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