Adri Fernandes

Etiqueta e comportamento – tudo que o curso de modelo não te ensina
Aprendizado que é para a vida e independe de você ser modelo.

Já fiz curso de modelo e manequim que, no módulo de etiqueta, a professora ensinou a usar uma mesa posta, afinal, segundo ela “vocês podem fazer sucesso e fechar negócio em um restaurante fino”. Isso não é verdade!
De todos os modelos e manequins profissionais, ou seja, que se qualificam e possuem registro profissional, a taxa de sucesso não chega a 1% (considerando que sucesso é sobreviver da carreira) e desse percentual ninguém fecha negócio em restaurante “fino”. Então, mesa posta é o que menos importa na disciplina de etiqueta do curso de modelo.
É que, enquanto ensinam que os talheres são usados de “fora para dentro”, os modelos e manequins estão pelas passarelas com seus cabelos, unhas e cílios chamando mais atenção que a peça cedida pelo lojista. Isso é antiético (lembrando que a ética está intrinsecamente relacionada com a etiqueta). Enquanto se aprende qual taça é de água, qual de vinho tinto, qual de vinho branco e para que serve a lavanda, os modelos e manequins em fotos de grupo, estão empurrando os outros para aparecer mais que o colega. Isso é uma absurda falta de etiqueta. Modelos com calçados inadequados ao vestuário, sem nenhuma desenvoltura para mostrar a beleza, elegância ou fluidez da peça que veste. Isso é antiético e falta de etiqueta, porque o papel do modelo é criar no outro o interesse pelo que está usando.
O que então é conteúdo adequado desta disciplina na formação profissional de modelo e manequim? Fácil responder, uma vez que é tão óbvio e tão pouco a exigir.
É preciso ensinar e cobrar, sob pena de não participação nos eventos:
- salto nude e preto, fino e fosco (salto alto e fino não se exige para crianças, pré-adolescentes, plus size, 50+ e pessoas com deficiência); lembrando que calçados envernizados dão reflexo nas fotos;
- acessórios, unhas, maquiagem e cabelo discretíssimos, assim como a vestimenta de modelo, que deve ser toda preta ou blusa branca com calça jeans escura, sem brilho algum nem detalhes de outra cor e com decotes pequenos e comprimento e largura adequados (cofrinho de fora, barriga à mostra e excesso de puxões para não mostrar a calcinha, nem pensar);
- lingerie nude e preta, cintura alta, tomara-que-caia, de preferência sem costura (calcinha marcando a roupa, não!);
- unhas curtas, nude ou sem esmalte, mas sempre cutiladas, tanto das mãos quanto dos pés;
- cabelos com o menor volume possível, sem lenços, turbantes ou acessórios (exceção para alguns perfis muito específicos ou conforme solicitação da marca ou do organizador do desfile);
- cílios postiços, sobrancelha de henna, nem pensar;
- depilação em dia, de todo o corpo (o modelo pode ser chamado para roupa de banho de última hora), inclusive os homens devem estar com a barba e bigodes feitos (exceção para alguns perfis muito específicos).
Também deve ser ensinado que somente o lojista e/ou o produtor/organizador do desfile pode pedir o descumprimento de qualquer uma das obrigações acima descritas.
“Ah, Adri, mas eu não cumpro quase nada disso e não sou punida nem fico sem desfilar”. Eu sei disso, mas a punição na maior parte das vezes é a perda de oportunidades que você nem imagina que teria, afinal, ninguém te conta que não te escolheu para um trabalho. Mas você deveria saber que se está sempre desfilando nos mesmos eventos, ano após ano, repetindo as mesmas poses, sem trabalho remunerado na área, sem avanço na carreira, é porque algo “de errado não está certo”. E se você se contenta com isso, tudo bem, só não pode sair por aí reclamando que “esse mercado é assim ou assado”, combinado?
Continuando a “aula” sobre o conteúdo do módulo de Etiqueta, vamos falar de comportamento.
Também deve ser ensinado e muito cobrado:
- comportamento adequado em camarim;
- cuidados com a peça a desfilar (uso e devolução);
- itens essenciais da necessaire (sejamos sinceros, da mala);
- trato no lidar com o lojista e com colegas;
- zelo primoroso com a higiene pessoal (para a vida, porque não adianta pegar meia limpa no dia do desfile, seu pé vai exalar mau cheiro quando for trocar de roupa).
Isso é o básico a ser ensinado, cobrado e praticado no curso de modelo, nos workshops e em qualquer evento. Básico! E precisa ser severamente cobrado por organizadores de desfiles.
Mesa posta? Não se preocupe com isso! Caso precise ir a algum evento requintado, basta consultar o Google de véspera e aprenderá todo o necessário. Errar o uso de um talher não é tão mal visto quanto se apresentar com cílios que varreriam todo o salão do restaurante numa picadela rsrsrsrs. Ademais, quando preciso, sempre pergunto ao anfitrião ou a um garçom o que é aquilo que não conheço ou como usar um talher que nunca vi. Não há mal nenhum nisso.
Agora a dica de ouro da tia Adri: chegue no curso já sabendo de quase tudo isso. São informações que estão na internet, fáceis de achar e quem se interessa por uma carreira, tem curiosidade, busca vídeos e referências. Isso é o que diferencia quem é modelo e manequim de quem é apenas um deslumbrado com passarela (e só quer aparecer).
Até breve!
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