Seja bem-vindo
Belo Horizonte,17/07/2025

  • A +
  • A -

Bárbara Luíza

Cristina Leite: um marco histórico no Miss Universe Brasil Rondônia 2025

Aos 51 anos, ela desafia padrões, inspira mulheres maduras e faz história como a primeira candidata 50+ na disputa nacional

Foto: Divulgação
Cristina Leite: um marco histórico no Miss Universe Brasil Rondônia 2025 Colunista Bárbara Luíza - @barbaraluizaoficial

Cristina Leite é dentista implantodontista formada pela PUC-Campinas desde 1998. Durante duas décadas, construiu uma carreira sólida na odontologia, liderando sua própria clínica, a Odontologia Interativa, com uma equipe de 12 colaboradores. Também foi professora em seu curso particular e palestrante em diversos congressos no Brasil e no Peru, onde compartilhou conhecimento e inovação.

Em 2018, sua vida tomou um rumo inesperado: sofreu um grave acidente ao cair de uma escada em um shopping, que resultou em 11 fraturas no crânio, 10 dias em coma e um mês de internação. Enfrentou um longo processo de reabilitação, passando por cadeira de rodas e bengalas. Apesar da gravidade, teve uma recuperação considerada milagrosa, restando apenas leves sequelas: anestesia facial parcial, hiposmia (perda parcial do paladar) e ausência de olfato.

Após a recuperação física, Cristina enfrentou um profundo processo de depressão. Foi nesse momento que iniciou sua reinvenção pessoal, ouvindo um chamado antigo: a arte. Buscando ressignificar sua história e imagem, percebeu a crescente valorização das mulheres maduras e dos cabelos grisalhos na moda e na publicidade.

Mergulhou de cabeça nessa nova fase. Fez cursos, profissionalizou-se como modelo e, em pouco tempo, passou a ser reconhecida como uma das vozes autênticas da mulher 50+. Com carisma, presença e propósito, conquistou espaço e vem se destacando como símbolo de representatividade, beleza e força na maturidade.

Hoje, Cristina não é apenas uma modelo — é um manifesto vivo contra o etarismo. Seu trabalho tem inspirado outras mulheres a se reconectarem com sua potência e ocuparem, com orgulho, os espaços que sempre lhes pertenceram.

-O que significa para você ser coroada Miss Universe Brasil Rondônia 2025?

Ser coroada Miss Universe Brasil Rondônia 2025 foi uma honra — não apenas pela faixa, mas pelo significado que ela carrega.

Embora tenha sido convidada para representar o estado, abracei essa missão com todo o coração. Rondônia me acolheu com generosidade, e representar essa terra tão rica em diversidade, força e cultura amazônica me tocou profundamente.

Acima de tudo, essa coroação foi simbólica: o reconhecimento de uma causa. Mostrou que é possível romper padrões, ocupar espaços e provar que a mulher madura tem, sim, lugar na passarela e na sociedade.

Foi uma vitória não só minha, mas de todas aquelas que se sentem fora do padrão e, mesmo assim, escolhem existir com coragem.

-Qual foi o momento mais marcante da sua jornada até a coroa?

O momento mais marcante não foi sobre passarela, vestido ou câmera. Foi quando, no meio da correria dos oito dias de preparação, eu parei, respirei e entendi: “Não estou aqui para ganhar um título, estou aqui para abrir caminho.”

E quando comecei a receber mensagens — durante o concurso e até hoje — de mulheres dizendo: “Você me representa”, “Me senti vista por você”, “Agora acredito que também posso”... ali eu soube que já tinha vencido.

Foi marcante perceber que minha presença ali era maior do que eu. Minha jornada falava por tantas outras que ainda não se sentem autorizadas a brilhar depois dos 50. Esse reconhecimento silencioso, vindo do coração de outras mulheres, foi, para mim, o verdadeiro momento de glória.

-Como foi o sentimento ao ouvir seu nome sendo anunciado como vencedora?

Na verdade, eu não fui anunciada como vencedora do concurso. Mas vivi uma vitória que não se pendura no pescoço — ela ecoa na alma.

Minha vitória foi ver a causa pela qual lutei ser reconhecida. Foi receber mensagens de mulheres dizendo “me vi em você”, “me senti representada”.

Entrei como uma exceção e saí como símbolo nacional. O momento em que me senti verdadeiramente vencedora foi quando entendi que plantei uma semente. A partir dali nenhuma mulher madura precisaria mais pedir permissão para sonhar com uma passarela. Essa é — e continuará sendo — a minha verdadeira coroa.

-Quais desafios você enfrentou durante a preparação para o concurso estadual?

O maior desafio foi o tempo. Tive apenas oito dias para me organizar: buscar vestidos, roupas obrigatórias, parceiros, encaixar tudo na mala e na agenda.

Não tive uma preparação tradicional, com meses de antecedência. Tive pressa, improviso… e muita coragem.
Mas o verdadeiro desafio foi interno: equilibrar a correria com o propósito. Eu sabia que não estava indo apenas por mim — estava indo por uma causa.
Queria mostrar que uma mulher de 50 anos pode, sim, ocupar esse espaço com dignidade, presença e mensagem. No fim, o maior desafio virou a minha maior força.

-Como você pretende representar Rondônia no Miss Universe Brasil?

Pretendo representar Rondônia com a alma de quem conhece o valor da resistência, da diversidade e da reinvenção. Rondônia é um estado jovem, forte, cheio de contrastes — assim como eu.

Levo comigo a voz de uma mulher madura que decidiu ocupar espaços que antes pareciam proibidos. Quero mostrar ao Brasil que esta região não é apenas floresta, fronteira ou periferia do mapa. É um centro de força, de beleza real e de novas possibilidades.

Eu sou a Rondônia que rompe o silêncio. Que desafia rótulos. E que, mesmo sendo vista como improvável, chega com potência.

-Que mensagem você deseja transmitir às mulheres do seu estado e do país?

No Miss Brasil, eu não entrei para competir com outras mulheres. Entrei para representar aquelas que foram silenciadas, desacreditadas, descartadas. Fui por mim — e por todas que já ouviram que “essa fase já passou”.

Minha mensagem? Que a mulher madura não precisa pedir licença. Ela chega inteira, com história, cicatriz e luz própria.

Não somos resto. Somos reinício.

E quanto mais tentam nos apagar, mais fortes brilhamos.

-Qual causa social mais te inspira e que você gostaria de abraçar com mais força durante o seu reinado?

A causa que eu abraço desde o início da minha jornada como modelo — e que trouxe ainda com mais força durante meu reinado — é a representatividade da mulher madura, especialmente na moda e na publicidade.

Somos milhões. Movimentamos a economia. Decidimos compras. Sustentamos famílias. E, mesmo assim, ainda somos invisibilizadas.

A chamada “economia prateada”, formada por pessoas acima dos 50 anos, já é a que mais cresce no mundo. Se fosse um país, seríamos o 3º maior PIB do planeta.
E, ainda assim, somos ignoradas nas campanhas, nas vitrines, nos palcos. Isso precisa mudar.
Quero ser a voz dessa virada. A mulher madura não quer mais permissão — ela quer representação.

Quer se ver nas telas, nas revistas, nas passarelas. E quer ser respeitada como consumidora, formadora de opinião e potência que é.

Representar essa causa é mais que um compromisso. É uma missão de vida.

-O que a diversidade amazônica representa para você como rondoniense?

Eu não nasci em Rondônia. Sou paulistana, mas tive a honra de ser convidada para representar esse estado tão rico e diverso — e abracei essa missão com o coração aberto.

A diversidade amazônica que Rondônia carrega me inspira profundamente. É símbolo de resistência, abundância e conexão com a essência do Brasil.

Representar Rondônia é representar vozes plurais, belezas únicas e uma força que brota da terra, da cultura e das pessoas.

Sinto-me adotada por essa terra — e profundamente comprometida em mostrar ao Brasil a potência da Amazônia, tantas vezes esquecida.

-Como você define beleza?

Beleza não tem idade. Não tem padrão. Nem fórmula pronta.

Beleza é um sentimento, um estado de espírito que nasce de dentro para fora.

É a história que alguém carrega, as marcas, as conquistas, os aprendizados.

É a forma como a pessoa se enxerga — quando se ama, se valoriza, se reconhece, ela se torna ainda mais bonita.

E quando é vista, lembrada e respeitada pelo mundo ao redor, essa beleza floresce ainda mais.

Por isso, beleza é liberdade, autenticidade e coragem de ser quem você realmente é — sem medo ou desculpas.

-Você tem alguma dica de autocuidado ou autoestima que gostaria de compartilhar?

Para mim, autocuidado vai muito além de um banho relaxante ou uma rotina de beleza.

Autocuidado é se enxergar com gentileza — mesmo nos dias difíceis. É reconhecer sua história, suas batalhas e vitórias, e permitir que isso fortaleça sua autoestima.

Minha dica principal é: nunca espere que o mundo valide seu valor. Comece por você mesma.

Olhe no espelho e diga: “Eu sou suficiente. Eu sou digna. Eu mereço ser feliz.”

Quando a gente se ama de verdade, tudo começa a se encaixar: as escolhas, os limites, os sonhos.

E, claro: celebre sua idade, sua maturidade e tudo o que já conquistou.

Isso é poder puro.

-Qual é o seu estilo pessoal de moda e como ele influencia suas escolhas no palco?

Meu estilo pessoal é autêntico e confortável, com um toque de ousadia e elegância madura.

Gosto de peças que valorizam minhas formas e me fazem sentir segura — como vestidos que realçam a silhueta ou acessórios com personalidade.

No palco, escolho looks que refletem essa filosofia, mostrando que uma mulher madura pode ser estilosa, autêntica e impactante, sem seguir padrões impostos.

Minha moda é uma forma de empoderamento — e um convite para que todas se expressem do jeito que são, provando que estilo e beleza não têm idade.

-Como tem sido sua rotina de preparação para o Miss Universe Brasil?

Minha preparação foi intensa — e curtíssima: apenas oito dias! Nesse tempo, corri atrás de vestidos, roupas obrigatórias e parceiros que acreditassem comigo nessa empreitada.

Mas meu objetivo nunca foi ganhar a coroa. Meu foco sempre foi usar a plataforma do Miss Universe Brasil como palco para levantar uma bandeira urgente: a representatividade da mulher 50+ na moda e na publicidade.

E eu consegui!

Fui a primeira mulher do Brasil — e a terceira do mundo — a fazer isso.

Para mim, esse já é o verdadeiro título: mostrar que o lugar da mulher madura é onde ela quiser, inclusive na passarela.

-Que tipo de apoio foi fundamental nessa trajetória?

Eu não ganhei o concurso, mas vivi uma vitória que vai muito além da coroa.

Foi a vitória de ser reconhecida, ouvida e respeitada por aquilo que defendo.

E nada disso teria sido possível sem o apoio da minha base: minha mãe, minha irmã e minhas três filhas.

Elas foram meu chão quando o mundo só via o palco. Me deram força nos bastidores, acolheram minhas inseguranças e me lembraram todos os dias quem eu sou e por que eu estava ali.

Sou também profundamente grata ao meu assessor de imprensa, Paulo Visani, que enxergou o propósito dessa jornada desde o primeiro dia. Ele não apenas acreditou — ele caminhou comigo, lado a lado, com estratégia, coragem e sensibilidade.

E, acima de tudo, essa conquista é também do público que me acolheu, que me aplaudiu e que me escreveu no Instagram dizendo: “Você me representa”, “Você me deu força”, “Nunca me senti tão vista.”

A verdadeira vitória foi essa: abrir caminho, dar voz e mostrar que a mulher madura não quer mais se esconder — ela quer ser celebrada.

E eu fui, por todas nós.

-Há alguma curiosidade dos bastidores que você pode compartilhar?

Sim. Fui ao concurso para lutar contra o etarismo — e acabei enfrentando o etarismo lá dentro.

Não foi fácil. Em alguns momentos, senti olhares atravessados, comentários que tentavam me reduzir ou me deslegitimar por causa da minha idade.

Mas o que me emocionou profundamente foi o apoio das outras candidatas. As meninas dos outros estados foram incríveis comigo: me acolheram, me escutaram, vibraram junto.

Construímos uma irmandade bonita ali, baseada no respeito e na admiração mútua.

No fim, percebi que o verdadeiro bastidor é esse: quando a sororidade fala mais alto que o julgamento.

E isso me deu ainda mais força para seguir na minha missão.

-Quem é a Cristina por trás da faixa e da coroa?

Sou uma mulher que já foi invisível.

Que já se perguntou se ainda tinha espaço. Se ainda fazia sentido sonhar.

Sou mãe de três meninas que me viram cair e levantar mais de uma vez.

Sou filha, irmã, amiga — e sou feita de silêncios que ninguém vê.

Por trás da faixa, tem alguém que também sente medo, insegurança… e que, às vezes, precisa se lembrar do próprio valor.

Mas que não foge da luta. Que enfrenta o espelho e o mundo com a coragem que foi aprendendo na marra.

Sou uma mulher que não quer só existir.

Quer fazer barulho.

Quer abrir portas.

Quer dizer para outras: “Vem. Você também pode.”

Porque quando uma de nós aparece, todas começam a ser vistas.

A Cristina por trás da coroa não é perfeita.

Mas é real.

E talvez seja justamente isso que inspire:

continuar — com verdade, com rugas, com marcas e com alma.

-Que conselho você daria para meninas que sonham em seguir o caminho dos concursos de beleza?

Vá com verdade e com propósito.

Concurso de beleza não é só sobre aparência — é sobre se conhecer, se desafiar e se fortalecer.

Prepare-se para enfrentar julgamentos, competição e, às vezes, preconceitos. Mas saiba: sua maior força vem de dentro.

Não entre pensando apenas na coroa ou no título. Entre com a missão de ser você mesma, de representar algo maior, de abrir caminhos para quem vier depois.

E lembre-se: seja gentil consigo mesma durante a jornada. Nem tudo será fácil, mas cada passo vale a pena quando você caminha com coragem e autenticidade.

-Onde você se vê daqui a cinco anos?

Daqui a cinco anos, me vejo com uma carreira internacional consolidada, sendo uma voz forte e reconhecida na moda, na publicidade e na representatividade da mulher madura.

Quero estar abrindo portas para outras mulheres que, assim como eu, não aceitam ser invisíveis.

Desejo trabalhar com marcas, agências e projetos globais, mostrando que estilo, beleza e poder não têm idade — nem fronteiras.

Para isso, estou focada em aprimorar meu inglês, fortalecer minha rede de contatos internacionais e buscar experiências que ampliem meu alcance.

Mais do que isso, quero continuar inspirando. Provar que não importa de onde você começa — o que importa é onde você quer chegar, com coragem e autenticidade.

-Qual é a sua maior inspiração na vida?

Minha maior inspiração é Jesus — pela coragem, pelo amor incondicional e pela força de seguir firme, mesmo diante do julgamento e da dor.

E, aqui na Terra, minhas maiores inspirações são minha mãe, minha irmã e minhas três filhas.

Cada uma delas me ensina, todos os dias, o que é resiliência, cuidado, afeto e reinvenção.

Elas me lembram quem eu sou quando o mundo tenta me confundir.

Seguram minha mão quando eu vacilo — e celebram comigo até as vitórias silenciosas.

Tudo o que faço carrega um pedaço delas.

Sou o que sou por causa da fé que me sustenta — e das mulheres que me cercam.

Sigam no Instagram: @crisleiteart

VEJA TAMBÉM:

Vídeos dos trabalhos para o concurso do Miss Universe Brasil:


Galeria de fotos:

Arquivo Pessoal







Fotógrafo: Carlos Sales






Fotógrafo Pedro Torreta


Estilista: Alexandra Frutuoso - @maisonalexandrine 




Fotos Miss Universe Brasil








#CristinaLeite #MissRondônia2025 #MissUniverseBrasil #MulherMadura #BelezaSemIdade #RepresentatividadeImporta #ModaComPropósito #AutenticidadeNaPassarela #BelezaReal #ForçaFeminina 




COMENTÁRIOS

LEIA TAMBÉM

Buscar

Alterar Local

Anuncie Aqui

Escolha abaixo onde deseja anunciar.

Efetue o Login

Recuperar Senha

Baixe o Nosso Aplicativo!

Tenha todas as novidades na palma da sua mão.