Especialista Sany Calvar Fala Sobre Inteligência Artificial e Supply Chain

A transformação digital deixou de ser diferencial competitivo para se tornar condição de sobrevivência em mercados globalizados. Na linha de frente desse movimento está a inteligência artificial (IA), que já redefine não apenas a logística, mas também o planejamento, a gestão de riscos, o compliance e a sustentabilidade em cadeias de suprimentos.
Para entender o alcance dessa revolução, a reportagem conversou com Sany Calvar, advogada e especialista em Supply Chain. Combinando visão jurídica e estratégica, ela avalia como a IA está remodelando ecossistemas de fornecedores e ampliando o valor das organizações.
“A IA no Supply Chain não é só automação. É transformar a forma como tomamos decisões, antecipamos problemas e garantimos que todo o processo — do fornecedor ao cliente final — esteja alinhado a padrões legais, éticos e de eficiência”, afirma Calvar.
IA além da automação
O uso de algoritmos de machine learning e deep learning permite prever demandas com precisão, otimizar rotas de transporte em tempo real e simular cenários de crise. Mais do que eficiência, a tecnologia ajuda a identificar fornecedores que possam comprometer metas ambientais ou regulatórias.
Pesquisas conduzidas no MIT mostram como dados de sensores IoT, indicadores econômicos globais e análises preditivas reduzem riscos e aumentam margens. Mas, para Sany Calvar, os ganhos precisam vir acompanhados de governança:
“Um erro de algoritmo pode gerar impactos financeiros e jurídicos significativos. Cada decisão automatizada precisa estar respaldada por responsabilidade e compliance.”
Eficiência que anda junto com ESG
A IA também acelera a transição para operações sustentáveis. Estudos recentes apontam que empresas já usam tecnologia para monitorar emissões em tempo real, reduzir desperdícios de materiais e ajustar a produção para minimizar consumo energético. Calvar lembra que esse impacto tem reflexos diretos no jurídico:
“Regulações ambientais estão cada vez mais rígidas. A IA pode comprovar, com dados auditáveis, que a empresa cumpre padrões ESG e metas de descarbonização.”
Casos de impacto
Exemplos globais reforçam esse cenário. Uma grande varejista reduziu em 35% o capital imobilizado em estoque ao aplicar IA no gerenciamento de inventário, sem perder nível de serviço. Em outra frente, fabricantes conseguiram reagir a eventos climáticos extremos com planejamento preditivo, evitando rupturas em mercados estratégicos. Para Sany Calvar, esses casos mostram que a IA fortalece a resiliência das cadeias:
“A tecnologia não só melhora a eficiência, mas protege empresas diante de crises climáticas, geopolíticas ou sanitárias.”
Desafios de governança e dados
Apesar dos avanços, ainda existem barreiras. Integração de dados, capacitação da força de trabalho, transparência dos algoritmos e conformidade regulatória internacional estão entre os principais pontos de atenção. A especialista alerta:
“O Supply Chain é global por natureza. É preciso lidar com legislações diferentes sobre proteção de dados, direitos trabalhistas e comércio internacional. A IA deve ser configurada para respeitar todos esses marcos.”
Outro aspecto crítico é a privacidade. Com grandes volumes de dados sensíveis em jogo, Calvar defende a adoção do princípio “Privacy by Design”, previsto em legislações como a GDPR europeia e a LGPD brasileira:
“Não basta cumprir a lei de forma reativa. É preciso desenhar sistemas em que a proteção de dados seja requisito desde a concepção. Isso reduz riscos jurídicos e constrói confiança com stakeholders.”
Um futuro preditivo e inclusivo
O futuro do Supply Chain é preditivo e adaptativo. Novas ferramentas baseadas em Large Language Models permitem simular cenários de decisão e apresentar resultados em linguagem acessível, democratizando a análise de dados entre gestores.
“Antes, apenas especialistas técnicos tinham acesso a essas informações. Agora, líderes de diversas áreas podem participar do planejamento estratégico”, destaca Calvar.
Brasil: oportunidade e desafio
No contexto nacional, a adoção de IA ainda enfrenta gargalos de infraestrutura logística e baixa digitalização em setores tradicionais. Por outro lado, há oportunidades relevantes no agronegócio, mineração e e-commerce.
“Com a IA, o Brasil pode reduzir gargalos, otimizar exportações e cumprir padrões internacionais de sustentabilidade, ampliando sua competitividade global”, avalia Sany Calvar.
Conclusão
A próxima década deve consolidar a IA como pilar central das cadeias de suprimentos. Mas, segundo Sany Calvar, o verdadeiro valor virá da combinação entre tecnologia, ética e governança:
“A IA é uma ferramenta poderosa, mas só gera confiança quando aplicada com responsabilidade. O futuro do Supply Chain é entregar não apenas produtos — mas também credibilidade e sustentabilidade.”
Sobre Sany Calvar:
Sany Calvar é formada em Direito e construiu carreira como especialista em Supply Chain, Compliance e ESG. Ao longo de sua trajetória, contribuiu para que empresas de diferentes setores integrassem tecnologia, governança e sustentabilidade em suas cadeias de suprimentos, fortalecendo práticas éticas, eficientes e responsáveis.
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