“Caminhos Selvagens”: Catto retorna com álbum visceral e estreia show no Sesc Pompeia

Em entrevista exclusiva à Vogue, a cantora, que faz show neste fim de semana, em São Paulo, fala sobre amor, dor, resistência e renascimento em seu primeiro álbum de inéditas em sete anos Existem discos que acontecem. Outros, que precisam nascer. No caso de Caminhos Selvagens, o mais novo trabalho de Catto, não há dúvidas: foi gestado com a intensidade de quem precisa dar forma à própria história antes que ela transborde. Sete anos após seu último lançamento autoral, a artista retorna com um álbum denso, romântico, confessional -- e assina também a produção musical ao lado de Fabio Pinczowski e Jojô Inácio. O show de estreia acontece nos dias 5 e 6 de julho, no Teatro do Sesc Pompeia, em São Paulo, marcando também os 15 anos de carreira da cantora.
“Esse disco nasceu em 2018, quando eu compus a melodia de Eu Não Aprendi a Perdoar. Eu tava correndo e apareceu essa melodia pra mim. Comecei a escrever e senti que queria fazer um disco absolutamente romântico. Isso é muito ridículo, mas eu precisava disso. Contar todos os meus podres”, diz, rindo. “Sempre fui louca por esse tipo de poética. Quis fazer o meu disco de canções de amor, contando o que é isso a partir das coisas que eu vivi. E também pra honrar essas histórias. Carregá-las como tatuagens no meu corpo, pra poder seguir em frente.”
A jornada de Caminhos Selvagens é pessoal e lírica, marcada por perdas, separações, autoanálise, pandemia, mas também por redescobertas. Cada faixa é construída como um fragmento de diário, entre melodias etéreas, guitarras distorcidas e arranjos orquestrais. Não à toa, Catto define a obra como “um solilóquio coletivo”.
Transformar dor em música, porém, tem seu preço. “Teve muitos momentos difíceis. A mais complicada pra mim foi ‘Madrigal’. Ela era tão emblemática, que me apavorava um pouco. Eu queria muito fazer um bom trabalho com ela. Eu tinha só uma chance de gravar essa música, sabe? Uma loucura. E eu tinha que arrasar. Eu arrasei.”
A dramaticidade que permeia o álbum não vem só do tema — mas da própria presença de Catto como intérprete, compositora, artista LGBTQIA+ e produtora. Sua trajetória sempre esteve ligada à representatividade, mas agora ela parece mais decidida do que nunca a não suavizar o que tem a dizer.
“Ser LGBT em qualquer lugar, em qualquer espaço, sempre é um desafio. A gente avançou em algumas questões, retrocedeu em outras. Mas isso é um corpo vivo, que se move através da história. Eu confio muito na comunidade, confio nas pessoas”, afirma. “Me emociona saber que tem bar de sapatão em toda cidade. Pensar nessas pessoas vivendo suas vidas em lugares difíceis, restritivos, mas resistindo. Isso me faz sentir segura. A gente vai estar sempre juntas, brigando.”
Catto vê a arte como um canal de sobrevivência, e o álbum é sua forma de falar de amor e identidade com radicalidade e liberdade. “A dor na vida é inevitável, mas sem arte seria insuportável. Sempre falei das minhas coisas por meio de poesia, mas nunca tinha falado assim, tão diretamente. Isso foi importante pra mim. Pessoalmente.”
Catto
Divulgação
Ao assumir a produção musical do disco, ela também assumiu o risco e o poder de decidir o próprio som. “Aprendi a respeitar o tempo da arte. Caminhos Selvagens foi gestado durante anos. Eu tava no meu casulo, lambendo minhas feridas, cuidando da minha vida. E fui fazendo, mesmo sem saber. Hoje me sinto muito mais empoderada. Sei fazer com as minhas mãos. Minha independência cresceu muito.”
E como artista, ela entrega tudo -- inclusive conselhos. “O que eu diria pra juventude LGBT que busca força na arte? Rebelem-se. Com muito poder. Não aceitem códigos estéticos inventados pela cisgeneridade. Nosso mundo é outro. Seios firmes e apontando pra lua, sempre. Marchando cada dia mais gostosas.”
Musicalmente, o disco olha para o passado com afeto e transforma nostalgia em substância criativa. “Sou dos anos 90, então esse universo é muito meu. Quando compus, senti que as músicas vinham daquele lugar: rádio de madrugada, chorando por amores impossíveis. A estética seguiu a poética das minhas lembranças.”
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