Adriana Padua

A importância e os benefícios de um toque...
É uma necessidade humana básica.

O VALOR DE UM TOQUE...
Desprezamos o valor dos contatos físicos, para uma vida sadia. Tocar e ser tocado é uma necessidade real que, se não for atendida, nos leva ao stress e à depressão crônica.
O toque é certamente a primeira sensação que registramos. Mesmo antes de nascer, o feto está sendo tocado pelo corpo da mãe, sentindo a cada momento seus batimentos cardíacos. A amamentação também é um momento muito prazeroso para o bebê, pois ele sente o corpo da mãe, o calor do corpo da mãe, os batimentos cardíacos, o olhar da sua mãe...
O toque é uma necessidade biológica básica: questão de vida ou morte para as crianças (bebês não suficientemente tocados não se desenvolvem normalmente, e em casos extremos podem até morrer).
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Tocar simplesmente um ponto dolorido no corpo de alguém alivia a dor. Sabe quando a criança cai e machuca de leve o bracinho, joelho ou bate qualquer parte do corpo no chão ou em algum lugar e a mãe ou o pai passa a mão ali e fala, vai passar...a criança até se esquece daquela dor e sai brincando. Foi acolhida, foi dada a devida importância ao “dodói” dela e ela registrou esse amor.
Nas mais variadas situações o contato físico tem um inegável poder de acalmar, refrear angústias, tranquilizando até o batimento cardíaco. Essa necessidade de “ser tocado” é um verdadeiro desejo biológico próprio do ser humano e cuja realização pode trazer conforto físico e emocional.
Eu sempre valorizei muito o poder de um simples toque... mas muitas pessoas confundem as coisas e colocam maldade e com isso as pessoas perdem momentos preciosos de oferecer e receber um carinho. Estou me referindo ao toque respeitoso, sem outras intenções que não sejam a de trazer conforto ao paciente.
Sou terapeuta de Reiki também e o Reiki não precisa de toques. Mas se eu tenho a permissão do paciente, eu prefiro tocar nele nas partes que não possam ser “lidas” por ele como abuso. Toco levemente na cabeça,face, olhos, orelhas, ombros, braços, mãos e pés. O toque transmite uma descarga elétrica que vitaliza todo o organismo tocado.
O toque funciona como um estímulo específico. Ele aciona o sistema nervoso central para liberar uma substância química, a endorfina, que funciona como um analgésico natural no combate à dor. Quando o paciente sente o toque ele consegue processar no seu cérebro sensações de acolhimento entre outras e isso faz com que secrete não só a endorfina, mas os hormônios da felicidade, também conhecidos como hormônios do bem-estar ou do prazer, que são um grupo de substâncias químicas que influenciam positivamente o nosso humor e emoções. Os principais incluem endorfina, serotonina, dopamina e ocitocina.É o chamado “quarteto do prazer”. E sentir bem-estar está diretamente ligado ao processo de cura. Uma pessoa que se sente bem com o seu médico ou terapeuta, que tem empatia recíproca, reage bem melhor a qualquer tipo de tratamento e enfrenta melhor qualquer tipo de doença ou desordem em seu corpo e ou mente.
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Experiência pessoal
Vou contar uma experiência pessoal que tive com mamãe quando ela esteve muito doente. Sempre fomos muito amigas e carinhosas uma com a outra. Em uma das internações, ela estava extremamente confusa por causa das medicações e queria descer da cama hospitalar de qualquer jeito, e não podia, fazia diálise peritoneal, era madrugada, e a cama alta e com as grades laterais levantadas e ela descobriu uma frestinha no cantinho e queria descer por ali de qualquer jeito. Óbvio que falar com ela que não podia não adiantava. Eu simplesmente me deitei na cama do hospital com ela, e com delicadeza a abracei pelas costas e fiquei ali com ela, fazendo carinho nos cabelos e falando, mamãe, estou aqui, está tudo bem, pode dormir tranquila, e ela se acalmou... eu fui contra as regras estabelecidas pelo hospital de que não se pode deitar ou assentar na cama do paciente. Mas vocês acham mesmo que eu pensei nisso ou mesmo que tivesse pensado eu faria diferente? Claro que não! Eu faria tudo novamente. E esse fato , é apenas um dos inúmeros que vivenciei não só com a mamãe, mas tive outras vivências com pacientes nos hospitais em que trabalhei (não de me deitar na cama, lógico né?)
Sensibilidade, crenças limitantes...
O que eu quero salientar é que muitas vezes as pessoas evitam tocar e serem tocadas. Eu cansei de ver familiares de pacientes sem essa sensibilidade e até pensando que em um CTI o paciente não sente ou não ouve. Muitos médicos e enfermeiros também pensam dessa forma. Não estou generalizando, mas a maioria pensa que o paciente em coma, por exemplo, não sente o toque ou não ouve o que falamos perto do leito. Sente sim! Ouve sim! São crenças que limitam tanto os profissionais da saúde, quanto os familiares e a população em geral. Há uma melhora de todos os sinais vitais (batimentos cardíacos, pressão sanguínea, etc) quando a mão do paciente é segura ou acariciada, mesmo por um estranho (médicos, enfermeiros, psicólogos), e mesmo quando o paciente está inconsciente.
Determinadas crenças nos prendem ou nos libertam. Eu prefiro a liberdade. Se eu estou diante de um paciente e posso pegar na sua mão para que ele não se sinta sozinho, passar calor humano, confiança, estando esse paciente consciente ou não, por que eu não farei isso?
Prestar atenção ao que se fala perto do paciente é fundamental também, porque já vi casos de médicos e enfermeiros passando o plantão ao colega e falando assim mesmo: Olha, este não deve passar dessa madrugada, o caso é gravíssimo. Gente, eu já fui enfermeira supervisora de enfermagem de CTI e se eu contar para vocês o que já ouvi, vocês vão ficar malucos. E já tive retorno de pacientes que voltaram do coma e relataram que ouviram muitas coisas... vamos ser mais empáticos, mais cuidadosos, nos coloquemos no lugar do outro e nunca façamos o que não gostaríamos que fizessem conosco. Antes que me cancelem, devo dizer que é claro que não são todos os profissionais da saúde que são assim. Conheci e conheço vários que são tão amorosos quanto competentes em suas funções.
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"As mãos do terapeuta mostram o quanto ele se importa. O quanto ele deseja transmitir de cuidado, de amor e de sentimento.
As mãos do terapeuta são a porta de entrada para o mundo da sensibilidade, da atenção, e do sentir.
As mãos do terapeuta são o inicio da jornada, e durante o caminho serão o amparo de quem precisa de apoio, orientação e carinho." terapeutas.org.br
Já vivenciei situações em que entrei no quarto de um paciente, no meu estágio de pós-graduação em psico-oncologia, e o paciente estava sentado naquela poltrona “do papai” que fica ao lado da cama hospitalar e eu cheguei para a sessão de terapia. Sentei-me ao lado dele, peguei a mão dele entre as minhas mãos. Nesse dia, ele não conseguiu falar muito sobre suas dores emocionais, mas conseguiu desabafar um pouco entre lágrimas até que essas lágrimas viraram um choro profundo, intenso e eu apenas o acolhi, em silêncio, segurando a mão dele entre as minhas , mas não consegui segurar as minhas lágrimas diante do sofrimento dele, e quando ele se acalmou um pouco, me pediu para fazer uma sessão de Reiki nele, eu já tinha feito nele em outros dias e eu tinha esse costume de fazer Reiki nos pacientes que aceitavam, eu fiz com muito amor e entrega. No dia seguinte, eu fui ao quarto dele e perguntei se ele gostaria de mudar de psicólogo porque eu tinha chorado junto com ele. E ele me disse que de jeito nenhum, que ali ele sentiu mais ainda o quanto eu estava comprometida com o tratamento dele, realmente me importando com ele e que estava tudo bem quanto a isso. Não estou aqui incentivando os terapeutas a chorarem nem nada, até porque a emoção vem de repente e naturalmente, apenas estou abrindo o meu coração e mostrando a vocês que nós somos humanos e não temos de ser fortes o tempo todo, e sim, se o choro vier e você não conseguir controlar, está tudo bem. Isso não nos faz mais ou menos eficientes enquanto terapeutas. Essa é a minha opinião... A sensibilidade é um bem precioso e que deve ser preservado.Não lute contra isso...
A pandemia fez com que as pessoas interiorizassem um medo de tocar e de serem tocadas e isso trouxe muito prejuízo emocional. Mas aos poucos estamos restabelecendo a normalidade.
São tantas histórias que eu tenho para contar que daria um livro. Quem sabe eu escreva um livro contando? Claro que preservando a identidade dos pacientes e dos profissionais e instituições. Porque vale muito as pessoas tomarem conhecimento de fatos reais para agirem melhor quando estiverem visitando um paciente seja no hospital ou na casa do mesmo.
Todos esses fatos revelam a grande importância do toque, dos estímulos físicos para os seres humanos não só quando estão doentes, mas no dia a dia, nos relacionamentos amorosos, entre pais e filhos, relacionamentos de amizade , etc
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