
Entre bares, igrejas e confessionários: a origem do nome
Fundada em 2018, a Confesso Escola de Teatro nasceu do
desejo de dar corpo e consistência a um projeto pedagógico ousado: formar
atores e atrizes capazes de pensar, sentir e transformar a cena. Em menos de um
ano, a escola obteve credenciamento do SATED-MG, feito raro entre instituições
tão jovens. Logo as primeiras turmas chamaram a atenção da classe artística
mineira: havia rigor técnico, consciência de processo e um resultado final que
surpreendia.
Recepção Escola teatral Confesso -Acervo
O nome Confesso carrega a memória de uma experiência vivida
pelo grupo ainda antes da formalização da escola. Durante a encenação de
Navalha na Carne, de Plínio Marcos, os atores se apresentaram nos fundos de um
bar, em frente à Igreja de Santa Efigênia, em Belo Horizonte. Entre o sagrado e
o profano, a metáfora de “confessionário” apareceu como síntese da exposição,
da verdade e da entrega que o teatro exige.
Hoje, essa essência segue presente: a Confesso é lugar de
desnudamento artístico, de revelação e de pertencimento. Prova disso é o
glossário afetivo criado ao longo dos anos, com expressões como “virar a
chave”, “respeita à produção” e “é junto, né, gente?”, ditos que viraram
mantras e refletem a identidade coletiva da escola.
Pedagogia viva: entre teoria, prática e vida
O método da Confesso valoriza o espaço como território
simbólico. Cada aluno é convidado a pensar o lugar que ocupa, a forma como se
relaciona e a maneira como o corpo cria dentro desse contexto.
·
A formação é estruturada em três eixos:
- Monólogo individual, para o mergulho pessoal;
- Criação coletiva de rua, em diálogo direto com a
cidade; - Montagem final, dirigida por encenadores
convidados, como Lenine Martins
Essa abordagem garante pluralidade estética e promove
contato com diferentes linguagens. A Confesso também se diferencia por oferecer
formação para além do palco, preparando iluminadores, produtores, cenógrafos e
técnicos. Para os coordenadores, um artista só é completo quando entende e
valoriza cada parte do processo.
Diversidade e acolhimento
Um dos traços mais fortes da escola é a capacidade de
dialogar com diferentes públicos. Crianças vivenciam jogos lúdicos;
adolescentes encontram espaço para descobrir sua identidade; adultos se
permitem o reencontro com a arte.
Alunos neurodivergentes também são acolhidos, em parceria
com acompanhamento psicológico. A proposta é adaptar o percurso sem perder o
rigor artístico, valorizando a singularidade de cada trajetória.
Depoimentos que confirmam a transformação
atriz e produtora Maria Eduarda Cândido credita à escola não apenas sua
formação como intérprete, mas também sua descoberta na produção cultural. Foi
na Confesso que ela “virou a chave” para entender que a arte vai além do palco.
Cada estudante deixa sua marca e leva consigo o senso de
coletividade. O teatro não é visto apenas como espetáculo, mas como experiência
de vida.
A cidade como palco - Espetáculos que marcaram a trajetória
Entre os módulos mais emblemáticos está o teatro de rua. Com
máscaras inspiradas na commedia dell’arte e referências ao cordel, os alunos se
apresentam em praças, calçadas e avenidas. Nesse contato direto com o
imprevisível urbano — buzinas, transeuntes, crianças curiosas, vendedores
ambulantes — aprendem que teatro é presença, escuta e improviso.
É nesse choque entre palco e cotidiano que muitos artistas
descobrem sua verdadeira força cênica.
Espetáculo Cesarismo 2024 Marcus Neves Direção Guilherme Colina
Ao longo dos anos, a Confesso produziu montagens que
exploraram diferentes formatos e desafios:
- Crua, apresentada em uma antiga fábrica de seis
andares, exigindo que o público percorresse os espaços junto com os atores, sob
a direção de Guilherme Colina. - Ópera do Malandro, de Chico Buarque, que
mobilizou elenco numeroso e música ao vivo, sob a direção de Amanda Coimbra e
Ítalo Araújo. - Cesarismo, com 33 intérpretes e equipe robusta,
consolidando-se como experiência grandiosa, este também sob a direção de
Guilherme Colina. - Espetáculo
montagem do curso de capacitação profissional da Escola que se tornou sucesso
de público com cinco temporadas, sob a direção de Guilherme Colina. - Rinocerontes, espetáculo dirigido e adaptado por
Henrique Vertchenko, baseado no texto de Eugène Ionesco, mestre do teatro do
absurdo.)
Mesmo os imprevistos viraram aprendizado. Em uma
apresentação de A Revolta dos Perus, uma queda de energia foi solucionada com
rapidez pela equipe, sem que o público percebesse — prova de profissionalismo e
união.
Gestão com poesia - O teatro e sua função social
O equilíbrio entre sonho e administração é outra marca da
Confesso. Guilherme Colina, com passagem por países como Estados Unidos, Itália
e Portugal, trouxe repertório estético e experiências que ampliaram o horizonte
da escola. Ao lado de Tatiane Reis, especialista em gestão cultural, estruturou
uma base sólida para que a arte não se perdesse diante das dificuldades
financeiras.
A atual coordenadora, Vitória Cunha, é exemplo vivo do
impacto da escola. Ex-aluna, hoje lidera a instituição com apenas 25 anos,
conciliando produção e gestão sem abandonar o palco. Acumula mais de 50
trabalhos artísticos, sendo prova de que a Confesso não apenas forma artistas,
mas também líderes culturais.
Em tempos de cortes de investimento, a Confesso resistiu com
criatividade. Criou o Teatro Corporativo, que aproxima empresas da linguagem
cênica, participou de festivais e ampliou parcerias com setores como saúde e
turismo.
Guilherme Colina e Vitória Cunha Foto: Amestia Produções- Foto Acervo
Para Guilherme e Vitória, o teatro em Belo Horizonte deve
ultrapassar as fronteiras do palco e ocupar ruas, escolas e comunidades,
transformando-se em ferramenta de encontro e resistência social.
O que vem pela frente
Os próximos capítulos já estão sendo escritos. A Confesso
prepara:
- Circulação nacional de O Animal Agoniza, solo
dirigido por Rita Clemente; - O Festival Cultural de Natal Partilha, que leva
teatro para comunidades descentralizadas; - O Café das Três, projeto voltado à terceira
idade; - Novas produções infantis em desenvolvimento.
Confesso: verbo, gesto e comunidade
O verbo “confessar” significa revelar, entregar, expor a
verdade. E é isso que a escola faz desde 2018: convida artistas a se despirem
das máscaras do cotidiano para criar, experimentar e se transformar.
A Confesso não é apenas uma escola de teatro. É
confessionário, é palco, é resistência. É lugar onde a arte e a vida se
encontram, e onde cada aluno descobre que o teatro não é só representação — é
experiência, é partilha, é verdade.
Em sete anos, a escola formou mais de 400 atores, realizou
cerca de 80 espetáculos e produziu festivais, assumindo a gestão de espaços
relevantes em Belo Horizonte. Mas mais do que números, a Confesso se define
pelo espírito de comunidade que cultiva.
Confessar, para a escola, é expor-se, entregar-se, ser
verdadeiro. É permitir que o teatro atravesse a vida e transforme pessoas. E é
justamente isso que a Confesso tem feito: transformar palco em partilha, arte
em resistência e sala de aula em experiência de vida.
Conheçam mais em Grupo Confesso | Teatro (@grupoconfesso) Confesso Escola de teatro |https://www.instagram.com/confessoescoladeteatro/
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