Joelisio Fraga

“Quando a Mente também Adoece”
Mente doente

Ninguém nos prepara para a notícia de que há um câncer habitando o nosso corpo. Muito menos para o que isso faz com a nossa cabeça. No instante em que ouvi o nome “mieloma múltiplo”, uma avalanche silenciosa desmoronou dentro de mim. Era como se o corpo tivesse se tornado território de guerra – mas a mente, essa sim, era o campo minado.
Não demorou para que o medo fizesse morada. O medo da dor, da morte, da ausência. Medo de não ser mais quem eu era. De não ser mais visto como inteiro. E é aí que começa uma outra batalha, silenciosa e, por vezes, mais cruel: a luta pela saúde mental.
A rotina dos exames, as reações dos medicamentos, os olhares de pena camuflada. Tudo isso pesa. Mas o que mais pesa é o silêncio das emoções não ditas, dos sentimentos engolidos a seco. Aprendi que viver com mieloma múltiplo não é apenas sobreviver ao corpo que adoece — é cuidar da mente que, aos poucos, pode se cansar de lutar.
Teve dias em que a esperança se escondia. Em que levantar da cama era mais difícil do que enfrentar uma sessão de tratamento. E tudo bem. Não somos obrigados a sermos fortes o tempo todo. Vulnerabilidade não é fraqueza — é humanidade.
Hoje entendo que cuidar da mente é parte do tratamento. Psicoterapia, rodas de conversa, grupos de apoio, meditação, fé, afeto. Cada um encontra seu jeito de respirar em meio ao caos. O importante é não fingir que está tudo bem quando o coração está em pedaços.
Falar de saúde mental é falar de vida. Porque há vida mesmo quando o corpo luta. E há beleza até no momento em que a lágrima cai — porque ela lava. Porque ela diz que ainda estamos aqui, sentindo, lutando, vivendo.
Se eu pudesse deixar uma mensagem a quem, como eu, vive com mieloma múltiplo, seria essa: cuide do seu corpo, mas não se esqueça da sua alma. Ela também precisa de colo.
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